Por Francisco Medeiros
Podem contar-se por centenas os Mestres dos barcos
de boca aberta e das lanchas que, de todos os portos do Pico, com carga e
passageiros, atravessaram o canal de e para o Porto da Horta.
Alguns em barcos de maior porte só à vela navegaram
para todas ilhas do Arquipélago, dispondo apenas de aparelhos bastante
rudimentares de navegação e sem meios de comunicação. A prática adquirida
durante muitos anos fez deles grandes navegadores, alcançando grande prestígio
entre a classe e a população.
Manuel Alves |
Mestre Simão foi um dos grandes da comunidade do
Canal. Cumpriu com os seus deveres profissionais sem nunca ter recusado efetuar
qualquer viagem, por vezes durante a noite, a pedidos de socorro para
transportar doentes, alguns em perigo de vida para o Hospital da Horta.
Manuel (Simão) Alves nasceu no Faial, na freguesia
das Angústias. Descendente de marinheiro, também ele abraçou a atividade
marítima. Foi meu vizinho durante alguns anos e tinha-mos um bom relacionamento
de amizade entre famílias.
Mestre Simão, chefe de família exemplar, era pai de
sete filhos mas tinha uma vida económica familiar difícil. Como tantos outros,
e pensando num futuro melhor para os seus, acabou por emigrar em Julho de 1966,
para New Bedford, nos Estados Unidos da América, ao abrigo das facilidades
concedidas aos Faialenses, após a atividade vulcânica dos Capelinhos.
Através de pessoa amiga soube que faleceu em New
Bedford a 29 de dezembro de 1985.
Na sua campa foi colocada a silhueta da lancha Espalamaca
e por baixo a palavra Alves. Escusado será dizer que quem por ali
passar fica pouco esclarecido ao ver a imagem de uma embarcação e o nome Alves.
Até aqueles que o conheceram por Mestre Simão, podem não relacionar aquele nome
com ele. Fiquei com bastante pesar, embora respeitando a intensão da
iniciativa.
Nunca fui com a modalidade de os portugueses, quando
chegam aos países de emigração, serem muitas vezes tratados apenas pelo apelido
e outros alterarem mesmo, o nome próprio, em especial nos Estados Unidos da
América e Canadá, isto até onde vai o meu conhecimento.
Conheço exemplos como José mudar para Joe e Pereira para Perry.
Quando contactamos com alguns desses emigrantes nas
redes sociais, até que se identifiquem completamente, não sabemos com quem
estamos a falar.
Depois aparecem por aí alguns descendentes à procura
das suas raízes, falam mal o português ou não sabem uma palavra e os nomes dos
familiares que querem encontrar parecem hieróglifos. Já me apareceram alguns
desta forma.
Não sei quem foram as pessoas ou pessoa ligada à
Atlânticoline que teve a iniciativa de propor o nome de Mestre Simão a um dos
novos navios que vão navegar no Grupo Central dos Açores. Pela minha parte
fiquei bastante agradado pela justa e merecida homenagem que lhe é prestada,
perpetuando assim a sua memória!
Vila de São Roque do Pico
Setembro de 2013
NOTA: Mestre
Simão Chamava-se Manuel Alves, segundo como consta da cédula marítima. Esteve
matriculado na Lancha Espalamaca desde 18 de Outubro de 1959, até 1966. Era filho
de Simão Alves, cabo de mar, no Porto da Horta falecido em 12 de Novembro de
1962. Já reformado.
O Município da Horta, prestou-lhe homenagem, pondo o
seu nome a uma rua das Angústias: Manuel Alves (Mestre Simão). Rua Manuel Alves (Mestre
Simão)-Santa Bárbara, Angústias 9900-164 Horta.
Era também muito conhecido por Manuel Simão, entre
os vizinhos e amigos. Simão era herança do Pai, como era vulgar antigamente: Nestas
duas ilhas, Faial/Pico de onde tenho mais conhecimento era uso os jovens usarem
o primeiro nome, ligado a um dos ascendentes mais conhecidos, na freguesia. Exemplos:
Fernando do José da Luísa, o José era o Pai e a Luísa era a avó. Manuel do
Júlio, Júlio era o pai. José Rufino, Rufino era o Pai Rosairinha era o nome da
avó etc…
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