Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

sexta-feira, 27 de março de 2009

TI’ALBERTO XATINHA E O PAPEL SELADO

Autor: Francisco Medeiros

Aura Avelar César, nasceu em Luanda, e faleceu em 1944, no lugar da Areia Larga. Era filha, de Amélia Ernestina Avelar, poetisa, nascida no concelho da Madalena, casada com António Mariano César Ribeiro, que foi oficial general do exército, também nascido na Madalena.
Filha única, senhora de uma cultura geral muito vasta, que partilhava com os outros, levou-a a ensinar as primeiras letras, a muitas crianças e jovens no lugar de Areia Larga, já que os jovens daquela localidade, atraídos pelo mar, que os seduzia, não estavam motivados para frequentar a escola primária.
Foi neste espaço da sua vida que a levou a apaixonar-se por um daqueles jovens com quem casou, António Joaquim Medeiros, que foi cabo de mar na Areia Larga. Chegou a ensinar francês, língua que dominava, também como o português, aos filhos e outros familiares. Mas a transmissão dos seus conhecimentos não se ficava por aqui, quando surgia uma oportunidade, gostava de os partilhar com os outros, pois as pessoas da localidade, envolvidas nos seus trabalhos, vivendo quase exclusivamente da pesca, não lhes permitia ir mais além.
Um certo dia D. Aura, nome porque era conhecida de toda a gente, em conversa com pessoa da localidade, surgiu a oportunidade de explicar a forma como era fabricado o papel, começado por dizer, que o material mais usado inicialmente, era o algodão, o linho e o cânhamo e mais tarde a polpa de madeira de árvores, por ser mais económico e resistente, devido ao maior comprimento da fibra, especialmente eucaliptos e pinheiros, sendo estes de uma grande variedade.
Esta novidade correu de boca em boca, como sempre acontece nos lugares pequenos e como não podia deixar de ser também ao conhecimento de Alberto Joaquim Medeiros, conhecido por Ti’Alberto Xatinha. Este estando um dia no armazém do barco ao pé do porto da Areia Larga, fazendo uns aparelhos de pesca, entrou lá um seu familiar que lhe disse:
- Ó Ti’Alberto, sabia que o papel é feito de troncos árvores eucaliptos e pinheiros?
O Ti’ Alberto pensou um bocado e depois de algum tempo sai-se com esta!
- Então o papel selado é feito com pinho resinoso!
Naquele tempo, não existia na Ilha do Pico pinho resinoso. Este para cá chegar, tinha de ser importado, o que o tornava o mais caro das espécies de pinhos.
O papel selado era uma folha azul de 25 linhas com um selo impresso com o valor que foi aumentando de com o decorrer do tempo tendo atingido o valor de 60$00. Teve uma longa existência de mais de 300 anos desde o século XVII, com algumas interrupções, até ao século XX acabando por ser extinto em 1986.
Já lá vão 22 anos. Que o diabo seja surdo e vesgo!

diHITT - Notícias