Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Mestre Simão: nome de uma das novas lanchas da Atlânticoline

Por Francisco Medeiros
Podem contar-se por centenas os Mestres dos barcos de boca aberta e das lanchas que, de todos os portos do Pico, com carga e passageiros, atravessaram o canal de e para o Porto da Horta.
Alguns em barcos de maior porte só à vela navegaram para todas ilhas do Arquipélago, dispondo apenas de aparelhos bastante rudimentares de navegação e sem meios de comunicação. A prática adquirida durante muitos anos fez deles grandes navegadores, alcançando grande prestígio entre a classe e a população.
Manuel Alves
Há 54 anos Mestre Simão era mestre das lanchas da Empresa das Lanchas do Pico, Lda. Cruzou o Canal Pico-Faial centenas de vezes, algumas com tempo menos bom, com manobras difíceis e perigosas, que punham à prova a sua alta perícia na entrada dos portos da Fronteira, incluindo os portos de São Mateus e Prainha do Galeão. Fez ainda muitas viagens em regime de fretamento para os Portos do Grupo Central dos Açores.
Mestre Simão foi um dos grandes da comunidade do Canal. Cumpriu com os seus deveres profissionais sem nunca ter recusado efetuar qualquer viagem, por vezes durante a noite, a pedidos de socorro para transportar doentes, alguns em perigo de vida para o Hospital da Horta.
Manuel (Simão) Alves nasceu no Faial, na freguesia das Angústias. Descendente de marinheiro, também ele abraçou a atividade marítima. Foi meu vizinho durante alguns anos e tinha-mos um bom relacionamento de amizade entre famílias.
Mestre Simão, chefe de família exemplar, era pai de sete filhos mas tinha uma vida económica familiar difícil. Como tantos outros, e pensando num futuro melhor para os seus, acabou por emigrar em Julho de 1966, para New Bedford, nos Estados Unidos da América, ao abrigo das facilidades concedidas aos Faialenses, após a atividade vulcânica dos Capelinhos.
Através de pessoa amiga soube que faleceu em New Bedford a 29 de dezembro de 1985.
Na sua campa foi colocada a silhueta da lancha Espalamaca e por baixo a palavra Alves. Escusado será dizer que quem por ali passar fica pouco esclarecido ao ver a imagem de uma embarcação e o nome Alves. Até aqueles que o conheceram por Mestre Simão, podem não relacionar aquele nome com ele. Fiquei com bastante pesar, embora respeitando a intensão da iniciativa.
Nunca fui com a modalidade de os portugueses, quando chegam aos países de emigração, serem muitas vezes tratados apenas pelo apelido e outros alterarem mesmo, o nome próprio, em especial nos Estados Unidos da América e Canadá, isto até onde vai o meu conhecimento. Conheço exemplos como José mudar para Joe e Pereira para Perry.
Quando contactamos com alguns desses emigrantes nas redes sociais, até que se identifiquem completamente, não sabemos com quem estamos a falar.
Depois aparecem por aí alguns descendentes à procura das suas raízes, falam mal o português ou não sabem uma palavra e os nomes dos familiares que querem encontrar parecem hieróglifos. Já me apareceram alguns desta forma.
Não sei quem foram as pessoas ou pessoa ligada à Atlânticoline que teve a iniciativa de propor o nome de Mestre Simão a um dos novos navios que vão navegar no Grupo Central dos Açores. Pela minha parte fiquei bastante agradado pela justa e merecida homenagem que lhe é prestada, perpetuando assim a sua memória!
Vila de São Roque do Pico

Setembro de 2013
NOTA: Mestre Simão Chamava-se Manuel Alves, segundo como consta da cédula marítima. Esteve matriculado na Lancha Espalamaca desde 18 de Outubro de 1959, até 1966. Era filho de Simão Alves, cabo de mar, no Porto da Horta falecido em 12 de Novembro de 1962. Já reformado.
O Município da Horta, prestou-lhe homenagem, pondo o seu nome a uma rua das Angústias: Manuel Alves (Mestre Simão). Rua Manuel Alves (Mestre Simão)-Santa Bárbara, Angústias 9900-164 Horta.
Era também muito conhecido por Manuel Simão, entre os vizinhos e amigos. Simão era herança do Pai, como era vulgar antigamente: Nestas duas ilhas, Faial/Pico de onde tenho mais conhecimento era uso os jovens usarem o primeiro nome, ligado a um dos ascendentes mais conhecidos, na freguesia. Exemplos: Fernando do José da Luísa, o José era o Pai e a Luísa era a avó. Manuel do Júlio, Júlio era o pai. José Rufino, Rufino era o Pai Rosairinha era o nome da avó etc…

 Francisco Medeiros
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