Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

AS LANCHAS DOS PILOTOS

Autor: Francisco Medeiros

Em, 5 de Janeiro de 2012, foi lançada à água, a nova lancha para o serviço de pilotagem, no Porto do Cais do Pico.
A Lancha denomina-se Alavro de Ornelas que foi nomeado Capitão do Donatário da ilha do Pico, por volta de 1460, mas nunca chegou na prática a tomar posse real da Ilha.
Os portos do Arquipélago do Açores, desde que começaram a ser escalados por navios à vela e a vapor com carreiras regulares, houve necessidade de dotá-los de indivíduos com conhecimentos práticos, dos portos. Estes práticos eram contratados de preferência de entre os experimentados mestres das embarcações que faziam tráfego nos portos.
Havia “Práticos dos Portos”em todos os portos do Arquipélago. Apenas os portos de abrigo de Ponta Delgada e Horta tinha um serviço de pilotagem permanente, com Pilotos Práticos, Patrões e Remadores.
O Porto da Horta, chegou a ter três guarnições, no tempo da Guerra II Guerra Mundial 1939/ 45 com um Piloto Mor, três Pilotos Práticos, Patrões e Remadores, com um serviço permanente de 24 horas dia. Para concorrer a Pilotos Práticos destes dois portos era necessário possuir carta de arrais, do tráfego local e praticar vários meses.
A primeira embarcação usada pelos Práticos do Porto da Horta, foi uma baleeira, que armava com quatro remos e foi oferecida de um de um navio à vela.
No fim do século XIX, os práticos já dispunham de uma canoa que também armando com quatro remos, mais bem apetrechada com palamenta, de acordo com o serviço a que se destinava.
Uma significativa parte dos remadores, e patrões do Porto da Horta foram recrutados nos portos da Fronteira do Pico na qualidade de assalariados do quadro da Capitania.
Levavam o Prático na canoa a remos, aos navios que pairavam fora da doca, muitas vezes com mau tempo, e depois de os navios entrarem na Baía eram eles que passavam as espias às bóias para amarrar os navios. No tempo o molhe não tinha condições para acostagem de navios.
Pelos portos das outras Ilhas, o prático, utilizava normalmente uma embarcação de pesca a remos, de boca aberta, limitava-se a indicar apenas o local onde o navio devia fundear, tendo em conta os fundos, as marés, a ondulação e os ventos dominantes.
Aqui no Cais do Pico Por volta de 1894 a Insulana foi obrigada a escalar o Porto do Cais do Pico, para fazer o serviço de passageiros e transporte de mala de correio, com a recomendação de não demorar mais de uma hora. Para isso foi contratado um prático do porto que era transportado numa pequena lancha a remos.
 Até aquela data os navios escalavam todas as Ilhas menos a Ilha do Pico. Sempre o mesmo, o Pico estava próxima do Faial ?.
Naquele tempo era utilizada uma embarcação de pesca a remos e mais tarde nos anos quarenta com uma embarcação do tráfego local de boca aberta motorizada, a “Veloz”, que também fazia o transporte de passageiros. Nos anos sessenta o Agente de navegação local passou a dispor de duas em embarcações, uma delas com cabine, que transportavam o prático e faziam o transporte local de passageiros.
 Em 1980, a parte acostável do molhe atingiu 92 metros de comprimento. A 11 de Abril daquele ano atracava o primeiro navio comercial “Georgius Roussos”para descarregar 2.000 toneladas de cimento para as obras do porto. A partir daquela data os navios passaram a atracar quando as condições do tempo o permitiam. O prático era transportado para bordo dos navios, nas embarcações “Gamo” e “Zeus” pertencentes ao agente de navegação local
Em Maio de 1983 foi colocado no Porto do Cais do Pico, um Piloto Prático, pertencente ao quadro da Capitania, que passou a usar uma embarcação de pesca motorizada até à aquisição de uma outra de maior porte pela JAPH, o “Gamo”. Esta embarcação sofreu várias reparações, durante as quais foi substituída por uma outra a “Elite”. Mais tarde e já neste século o “Gamo” deu lugar à lancha “Garça”. Esta última lancha, pertencia à base naval Inglesa estabelecida no Porto da Horta, na segunda Guerra Mundial nos anos quarenta. Foi cedida à Capitania do Porto da Horta, que a usou por largos anos nos serviços de pilotagem. Tinha uma característica rara para o tempo, o motor não tinha revés. Possuía à volta do hélice duas conchas em forma de meia-lua, ligadas a um eixo e este à cana do leme. As velocidades a ré e a vante eram manobradas por uma manivela.
Em Janeiro de 2001 os Pilotos Práticos dos Açores passaram para as Administrações Portuárias.
A nova lancha agora lançada ao mar é uma embarcação construída e própria para os serviços de pilotagem nos portos, oferece todas as condições para um serviço que se quer seguro, podendo abranger outras operações. 
Vila de São Roque do Pico
Janeiro de 2012
NOTA- O primeiro Prático do Porto do Cais do Pico, terá sido Manuel Emilo Herz, que era arrais do tráfego local, oficial baleeiro, e agente de navegação: Criou a Firma Manuel Emilio Herz, Ldª .agente de Navegação, que ainda hoje existe. Exerceu aquela função até à década quarenta e cinquenta. Este prático mereceu um louvor do Delegado Marítimo de São Roque do Pico, quando pela sua idade e estado de saúde já não permitia o exercício daquela função.
Foi substituído, por Tomé Rodrigues Carapinha, arrais do Tráfego Local, mestre da lancha “Veloz”, que além do serviço de prático fazia o transporte de passageiros e mala do correio.
Em 12 de Novembro de 1959, foi nomeado prático do porto do Cais do Pico pelo Capitão do Porto da Horta, o cabo-de-mar Francisco Andrade de Medeiros que passou a exercer aquele função de a partir de Janeiro de 1960. Função que exerceu em regime de acumulação até Maio de 1983.
Em Junho daquele ano o serviço de pilotagem passou a ser efectuado por um Piloto Prático, Leonardo Segmento Serpa, que passou a fazer parte do quadro da Capitania do Porto da Horta e colocado na Delegação Marítima de São Roque do Pico.
Em Janeiro de 2001 os Pilotos Práticos, dos Açores passaram a fazer parte dos quadros do pessoal das Administrações dos Portos do Açores, tendo sido integrados na Secretaria Regional da Economia.
O Piloto Pratico, Leonardo Sarmento Serpa, exerceu aquela função até 7 de Fevereiro do ano 2006, data em que passou à situação de reforma.
Se não estou em erro, ainda durante algum tempo continuou a exercer aquela função, até ser sido substituído por um Piloto com curso da Escola de Pilotagem.