Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Conto de Natal

Um Homem estranho num Jantar dos sem abrigo
Por Francisco Medeiros

Um dia destes que antecedem o Natal, encontrei um homem estranho num jantar de confraternização dos sem abrigo, disseminados por esse mundo.

Estava triste. O seu aspecto envelhecido era demonstrativo, de um ser que ao longo dos séculos, tinha sido oprimido por civilizações.

Contou-me ele que toda a sua vida tinha sido governado e explorado por monarcas e doutores da lei, por grupos e classes privilegiadas, para quem trabalhou toda a vida e não distribuíam com justiça um pouco do que ele próprio produziu, para viver com dignidade.

Nascido, de uma família humilde, vivia feliz com os avós, a mãe o pai e os irmãos e assim foi crescendo na harmonia do lar sem sobressaltos, onde era posto em comum os seus afazeres, a sua vivência sem atropelos, na fraternidade, na solidariedade, na dignidade, na confiança, no respeito mútuo, sem medos, nos direitos e deveres de cada um, para com o seu semelhante em sociedade.

Ao atingir a maioridade, foi alistado para cumprir o dever de defender a pátria. Para servir nas forças armadas recebeu um número, foi doutrinado com palavras que apelavam à sua bravura, proibido de dar opiniões e pensar com a própria cabeça e treinado para matar.

Com a mão armada, lançou bombas em todo o mundo, assassinando pessoas inocentes. Nunca foi esclarecido com transparência porque o fazia.

Ocupou territórios, que sabia não serem a sua Pátria. Muito mais tarde começou a olhar para o seu percurso de vida e descobriu que tinha sido enganado, traído.

Depois de percorrer vários mundos envolvido em guerras, envelhecido prematuramente por ferimentos no corpo e da alma, achou que devia regressar ao lar que o viu nascer.

Tinham-se passados séculos, quando chegou à aldeia onde tinha nascido, não encontrou a família. No local onde julgou existir a sua casa encontrava-se um enorme edifício de apartamentos. Encontrou alguns velhos como ele, sentados num banco de jardim, pareceram-lhe tristes, não os conhecia, e jovens não encontrara nenhum.

Contou-lhes que tinha nascido naquela localidade e apontou apara o grade edifício à sua frente, perguntou-lhes pelos familiares, mas todos responderam não os conhecer.

Um dos que ali estavam, o mais idoso a julgar pelo seu aspecto, disse que conhecia a história de uma família que ali residia habitavam uma casa com um grande quintal à volta, onde criavam diversos animais e extraiam da terra o necessário para sua subsistência e o remanescente era vendido no marcado. Viviam felizes nada lhes faltava até que um dia foram obrigados a abandona-la por ordem das autoridades.

A Empresa proprietária do edifício de apartamentos que lhe comprara a casa e o terreno circundante, vendeu-lhes um apartamento 70 vezes 7 mais caro, para isso tiveram de recorrer ao banco para pagar o apartamento em prestações.

O Casal teve que arranjar trabalho numa fábrica e para se deslocarem para o trabalho, o banco os tinha aliciado para comprarem um automóvel, mobiliário e electrodomésticos para o apartamento.

O casal teve que colocar os pais num lar de idosos e os filhos num infantário e assim viveram vários anos.

Um dia o casal chegou à fábrica onde trabalhavam há vários anos e verificaram um grande aglomerado de pessoas junto à entrada. Tinham sido despedidos. Não protestaram.

Voltaram para casa, verificaram que o dinheiro que tinha dado ao banco, já era mais que o suficiente para pagarem as prestações do apartamento. Pegaram nos filhos desapareceram de um dia para o outro.

Depois disso começaram a aparecer nas redondezas durante muitos dias uns senhores de colarinho branco e gravata à procura deles, indagavam junto das pessoas e dos vizinhos dos apartamentos, o seu paradeiro, alguma coisa que os pudessem localizar. Falavam em crédito mal parado!

Nunca mais souberam deles, apesar de haver várias suposições se tinham emigrado ou refugiado algures, mas diziam ser mais certo a primeira hipótese.

Um dia os homens vão viver sem medos, com o indispensável à sua subsistência. Haverá mais justiça social! Deixarão de cheirar a pólvora !

Dia Mundial da Paz

Vila de S. Roque do Pico.

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