Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

terça-feira, 31 de março de 2009

O VELHO CAIS


Autor: Manuel Carapinha

Como esquecer o lugar onde nascemos?

Não é possível!

Nas horas em que estamos em silêncio, pensamos na nossa juventude e dos anos, que já lá vão.

Vivi no Cais do Pico, até aos meus 20 anos, mas hoje recordo com saudade, aqueles tempos de derreter baleia, no porto que agora se chama velho. Ele está lá. Co
mo guardião dos velhos tempos a nos lembrar de um passado de glórias e labuta na "caça à baleia". Foguetes para o ar, Baleia! Baleia! – gritavam. A bandeira está estendida no cabeço de SANTA ANA. Botes para o mar. Lanchas prontas para rebocarem os botes. As esposas dos marinheiros com roupa e uma saquinha, com pão e queijo, feito por estas, do leite de suas cabras, criadas com rama de incenso e faia. Seguiam com seus olhos brilhantes, os maridos que iam há procura do pão, para seus filhos, mais tarde se saberia, que o mestre Manuel Januário tinha apanhado uma baleia. Alegria na casa de derreter. Acendia-se o lume, debaixo dos grandes caldeirões, para quando chegasse a baleia, estivesse tudo pronto para se derreter. Verdade! Sucedia assim,. Começa-se a desmanchar o corpo da baleia. Vários homens com celhas. Cada dois homens, com seu pau de palanca, transportam os toucinhos para os caldeirões, quando estes estão derretidos, o que lhe chamavam torresmos, serviam para dar mais atividade ao lume. Nós, rapazes do meu tempo, lá íamos com maçarocas de milho e rodelas de batata doce, para assar no azeite, como era chamado o óleo de baleia. Era muito bom! A casa de derreter ficava situada ao lado da rampa de varar as embarcações. Ao seu lado direito, olhando da terra para o mar, ficava a casa de derreter. Tempo que não mais me esqueço. Em frente da casa de derreter estava a Alfândega, casa de altos e baixos. Os baixos, servindo de armazém de mercadorias, este vigiado pela Guarda Fiscal. No lado, passava a estrada e em frente, ficava o varadouro. Ai havia a loja do Senhor JOSÉ TOMÁS, onde os marinheiros lá iam comprar os seus cigarros e tomar um copinho. Pobreza, alegria de viver, corações vibrando, esperando o fim de ano para fazerem as contas e receber sua soldada, para comprar seu milho para os alimentar no ano seguinte. - Tudo bem; - diz o Senhor JOSÉ MARIA, vindo da América. Rapazes, não esperem muito, porque essa pesca à baleia é comparada com o ovo. O Guarda Fiscal Cota, sem entender nada, pergunta; - como assim? É fácil, a gema é para o patrão, a clara é para pagar os combustíveis e as cascas para vocês baleeiros. Assim termino com “recordar é viver”.

Um abraço ao Velho Cais.

Email do Manuel Carapinha




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