Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

JOSÉ CARDOSO PINHEIRO - Oficial baleeiro

Autor: Francisco Medeiros
Conheci o José Cardoso, ali no Bairro Mouzinho de Albuquerque na freguesia das Angústias da Ilha do Faial.

Foi uma figura que pela sua simpatia e respeito, no dia a dia, deixou marcas na memória mereceu, de todas as pessoas com quem contatava, no dia a dia, deixou marcas na memória das gentes da freguesia das Angustias.

Como jogador de futebol no Atlético onde brilhava a defesa central, foi uma referência, não só pelo amor à camisola como, apesar de ser um homem forte, era muito disciplinado dentro do campo.
Foi por sua influencia que fui pela primeira vez à baleia com 17 anos, era ele trancador de baleia. Na caça à baleia era um grande entusiasta recordo-me a primeira vez que arreei à baleia ali para fora dos Capelinhos - é quase sempre a primeira vez que nos fica na memória por se tratar de uma novidade - perseguíamos um cardume de 7 baleias, o José Cardoso com o desejo de se aproximar do cardume, dava indicações, aos remadores, puxando por eles chamando-lhes nomes de forma zangada mas dando o exemplo pelo esforço que despendia naquelas ocasiões.

Depois da baleia trancada, morta e amarrada pronta para ser rebocada, parecia uma criança com a satisfação estampada no rosto. elogiando o nosso trabalho. Fizemos outras arriadas, o José Cardoso era igual a si próprio, tudo o que fazia, era sempre com empenho, dedicação e espirito de equipa.

Recordo o José Cardoso, fazendo par com o Manuel Teixeira Semilhas este também jogador do Atlético, nas descargas de carvão a bordo dos cargueiros despejando aqueles grandes baldes cheios de carvão para os balelões amarrados à borda.

Era um homem de porte atlético. Recordo-me que ali em frente ao armazém de carvão da Fayal Cool, em frente ao canto da lado da Terra, havia um grande número de correntes gatas e ancoras destinadas à fixação das bóias de amarração de navios no interior do Porto da Horta. Á hora do almoço e quando estava bom tempo o José Cardoso, o mestre António Canequinha, o Carlos Eugênio e muitos outros entretinham-se a levantar a haste de uma das gatas, proeza que só o José Cardoso e o Canequinha o faziam com facilidade, apesar deste ser de pequena estatura, levantando-a até à cintura os outros, alguns, nem a suspendiam do chão. Certo dia o José Cardoso com a genica que se lhe conhecia levantou a gata quase até ao peito, ficando os outros de boca aberta. Outra dêle! Havia no Capelo um oficial baleeiro de nome Luisinho, de pequena estatura, mas um bom profissional, muito amigo do José Cardoso. Certo dia numa taberna das Angústias, ali ao lado da Igreja, o José Cardoso convida-o para tomar um copo, e quando lá chegaram o José Cardoso forte como era, pegou-o só com uma mão e sentou-o em cima do balcão.
Foi uma época que desapareceu, do nosso quotidiano, quase todos os marítimos viviam com um certo desafogo, enquanto durou a II Guerra e pouco mais. Depois foi a debandada provocada pelo Vulcão dos Capelinhos que mudou o Faial e mudaram-se as gentes. Foram-se os baleeiros e com eles todos os marítimos que davam uma certa vida ao Porto da Horta, resta-nos a recordação.

O José Cardoso, como não podia deixar de ser, foi também um dos que emigrou na década de sessenta até à Costa Leste dos Estados Unidos aonde viveu até ao ano de 2003.
diHITT - Notícias

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