Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

quinta-feira, 26 de março de 2009

O COMÉRCIO DA MINHA TERRA - Anos 45 a 55


Autor: Manuel Carapinha

Eu, sendo muito jovem, com a idade de treze para quatorze anos, trabalhei na padaria da senhora Adelaide Garcia da Costa, no caminho dos piquinhos, Cais do Pico. Desta feita, a dita e muito simpática senhora, me deu a tarefa de distribuidor de pão, ao comércio local. Principiando, pela pensão do Manuel Garcia, depois rumo ao comércio do meu sempre lembrado Cais. São Roque; loja do Magano, ai deixava 10 pães. A senhora me chamava e me dava um doce. Seguia rumo ao senhor João Canário, este sentado a jogar sueca, com seus amigos, dizia:
- Eu, amanhã, te pago o pão. Tira um rebuçado do frasco. E até amanhã!
Seguia meu rumo à loja do senhor Manuel de Olinda; estas lojas de comercio geral. Deixava-lhe o pão que ele assim desejava. Este muito chateado, porque com uma brincadeira, tinha perdido um freguês. E qual a brincadeira, contada pelo próprio.Tendo uma senhora entrado na loja, lhe pergunta:
- O senhor tem banha?
- Tenho; mas é de um porco que morreu,
- Cruzes, diz a senhora. Há, não quero. O senhor tem sal?
- Tenho; mas tem bicho.
A senhora zangada vai embora e o senhor Manuel, fica deveras aborrecido, e não me ligou muito. Deixei o pão; segui rumo ao senhor Manuel António, loja de muita louça de barro. Este, em estado de embriaguez, me manda para a rua e me diz:
- Vai vender pão a outro.
Loja do senhor Manuel da Silva, antiga Casa Âncora; este sempre satisfeito, me dizia:
- Rapaz quantos pães me podes vender?
Uns tantos, eu lhe respondi; neste momento, entra o mestre Carolina:
- Senhor Manuel, tem café de cevada?
- Tenho, mas caldeei favas para render mais, fique com ela.
- Seu malandro, responde o Carolina.
- Fica o senhor Silva muito a rir, por ver a atitude do Carolina. Sigo meu rumo. Loja do senhor José Gomes, homem de aspecto forte e baixo. Estava a falar com a esposa, por meio de um tubo que dava a cozinha. Pára de falar com a esposa e diz-me ele:
- Que queres rapaz?
- Venho trazer o pão.
- Hoje não quero! Podes ir há tua vida e olha, eu não quero mais pão de hoje em diante, estou com muito mau humor. Fiquei triste e com muito medo, porque, fiquei sem saber porque tinha sucedido. Fui para a loja do Fortunato Gomes, o qual era muito divertido, para contar anedotas. Entro e já lhe vou pedindo para me contar uma:
- Pois não meu filho! Como queres bonita ou feia,
- Como o senhor entender digo eu.
E assim foi; ele me diz:
- Olha, quando fores crescido, claro que te vais casar. Lembra-te, que no primeiro mês, ficarás com tua esposa barriguinha com barriginha. No segundo mês, cú com cú. E no terceiro mês, te vai dizer a esposa. Que trazes tu!
Fiquei contente e sempre ri pelo caminho. Faltam duas lojas de comércio geral. A do senhor Adolfo Ferreira, e do senhor Eduardo, estes com loja de fazenda e sapataria; diz o senhor Adolfo:
- Então rapaz. Gostas de estar na padaria?
- Gosto muito! -Minha resposta.
- Então porque não aprendes, a arte de teu avô?
- Não! Porque padeiro é melhor.
Senhor Eduardo muito espirituoso, antigo marinheiro da pesca há baleia, na calheta de Nesquim, atalha:
- Manuel! Porque não vais para pesca da baleia?
- Senhor Eduardo, já pensei nisso, mas ainda sou muito novo para tal.
Findei meu trabalho; regresso há padaria. A senhora Adelaide lá estava com uma sopa deliciosa, para eu comer.
Mas que belos tempos!
Tudo com harmonia.
Minha terra; tempos deveras saudososs; os quais estão sempre em minha memória. Até que o senhor nosso Deus, me chame para Lhe prestar minhas contas.
Um abraço para o povo da ilha do Pico………………
m_carapinha@hotmail.com

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