Crônicas, contos e narrativas do passado, de gente que vive na ilha do Pico, ou estão espalhadas pelo mundo e tem muitas estórias para contar. Mande seu conto.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O CAIS DO PICO HÁ 50 ANOS

Autor: Francisco Medeiros

Quem não conheceu o Porto do Cais do Pico, há 50 anos e hoje vê o movimento que se gera no novo Molhe-Cais, não faz a mais pequena ideia do que eram as dificuldades porque passavam todos aqueles que estavam ligados ao movimento de passageiros e cargas.
Neste pequeno porto, confluiam tripulantes dos navios, estivadores, marinheiros dos Iates do Pico, que aqui faziam escala e estivadores que procediam ao movimento de passageiros, cargas e descargas dos navios.
O Velho Cais, por onde mais de cinco séculos, se embarcou e desembarcou passageiros e mercadorias nesta banda do Norte da Ilha do Pico, sofreu várias reparações e ampliações, até atingir em 1942, o comprimento de 29 metros, com uma área de cerca de 250 m2. Em 2002, ondulação forte, pôs a descoberto a antiga ponta do cais e pôde verificar-se, por onde no principio do século eram arreados alguns botes baleeiros, em virtude da existência de várias armações baleeiras.
O cais tem duas pequenas escaleiras, uma na parte acostável e outra do lado da rampa de varagem, que só é praticável com a maré cheia. Nesta rampa, que também foi sofrendo reparações e ampliações, na primeira metade do principio do século passado, eram esquartejadas e transformadas em óleo, em caldeiros a fogo directo, as baleias caçadas pelo botes baleeiros do Cais do Pico. Ali varavam todas as embarcações de pesca local, as lanchas da baleia, as lanchas de transportes de passageiros, os barcos de boca aberta que procediam à carga e descarga dos navios que escalavam o porto. Estes barcos ainda faziam a ligação com os portos de São Jorge e Faial, transportando carga e passageiros.
Naquela rampa chegou a varar a Chalupa Helena, que percorreu as nove ilhas dos Açores de Santa Maria ao Corvo, transportando passageiros e carga e a lancha Velas da Empresa das Lanchas do Pico, Ltdª., que fazia uma carreira regular com passageiros, entre o Cais do Pico e Velas. Esta carreira, em virtude da fraca utilização pelas pessoas, foi mais tarde substituída pela lancha José Alexandre, hoje propriedade do Clube Naval, com capacidade para 20 passageiros e mesmo assim, era maior a oferta do que a procura e a Empresa das do Pico, desistiu do concurso àquela carreira.

Havia dias em que estavam ancorados no Porto, o navio da carreira, o Carvalho Araújo com carga e passageiros, o Terceirense a carregar gado e o Terra Alta, atracado ao cais, para movimentar passageiros e carga.
No cais era um pandemónio numa mistura de passageiros, carga e gado, que de todo o Pico, para aqui vinham.
Por vezes, acontecia que o navio da carreira o Carvalho Araújo, quando vinha do continente, chegava ao porto, já depois da meia noite, por vezes com vento fresco e ondulação do noroeste, o que dificultava as operações de desembarque de passageiros e carga. O serviço era feito em más condições de mar e quando as dificuldades se agravavam, o serviço era suspenso e o navio lá ia a caminho do Faial, para completar a descarga no regresso, depois de escalar a Ilha das Flores.
Só para manobrar com o pequeno guindaste manual, que foi da Alfândega do Distrito e que para aqui veio, ajudar nas operações de carga e embarque de gado, eram necessários oito estivadores, quatro às manivelas e quatro para o rodar, mais do que o suficiente para descarregar e descarregar um navio com contentores no novo Molhe-Cais. Numa operação normal, o Carvalho Araújo, ou outro navio, para movimentar carga ou gado, eram ocupados mais de duas dezenas de estivadores.
O Terra Alta operava quase todo o ano, só varava no principio e no fim do verão, para limpar e pintar o fundo ou fazer pequenas reparações. Atracava ao cais por vezes, em muito más condições de mar e quando não era possível, fazia serviço com uma pequena lancha a motor. Com os outros Iates, Santo Amaro e Espirito Santo, que navegavam normalmente de Abril a Outubro, procedia-se da mesma forma, só que estes tinham uma lancha a remos, que era muito utilizada nos portinhos, desde as Velas à Ponta do Topo, na Ilha de São Jorge.
A carga e descarga dos navios, se o tempo o permitia, processava-se continuamente, e quando aqui vinha o navio Girão, com combustíveis em bidões, após a descarga havia que carregar os bidões vazios, que eram rolados rampa abaixo, até próximo do barco e à noite provocavam um barulho, que mantinha acordada a vizinhança.
Agora o Velho Cais está deserto de barcos, das gentes, de marinheiros de baleeiros. Só mar, a ilha em frente e memórias d’outros tempos.
Vila de S. Roque do Pico
Março de 2009
email xatinha@sapo.pt

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